Viviane Monteiro
 
irmão marfim
(ao vovô)

O fogo arde lá fora,
O fogo arde aqui dentro.

O fogo arde em meus braços, pernas, lábios.
Mas a água rega os meus olhos.
A água que te deu vida,
O fogo que te levou.
O mesmo fogo que atraca em meu coração
Na esperança de te ver, te abraçar,
Te sorrir, te amar.

Ele pouco a pouco vai se alastrando no coração
E derrubando os meus sonhos como peças de dominó,
De ébano e marfim.
Ébano, meus cabelos, não mais negros,
Mas rubros, como o fogo que te levou.
Marfim, tua cabeça, teus cabelos grisalhos, cor de neve,
Que, se não fosse por tão pouco, não haveria diferença sequer,
A não ser nossos 74 anos de diferença.

E dizendo: “A benção, vovô !”
Pensava: “como vai, meu irmão ?”
Um sentimento tão puro, tão intenso,
Tão infantil e o brusco medo de te perder
Me impediram de te dizer !
Meros 74 anos
Pelos quais não fui fruto da mesma árvore que ti.
Injustos 74 anos que me impediram de pensar como tu.

Aqui, nos sons de um carrilhão
Ouço a batida das quatro horas.
Aqui, nos sons desse mesmo carrilhão,
Ouço a batida do dó, do sol.
Ouço a batida da dor, da solidão em meu peito
Que durante quase quatro anos
Me obrigaram a ficar longe de ti.

Pensar que ainda mais uma eternidade
Quando meu cabelo for puro marfim
E já não mais conseguir tocar no piano
A nossa “Valsinha do Vovô”
Nunca mais minha mão terá
Pleno contato com o ébano e o marfim
Para assim podermos nos encontrar
Além da eternidade.
Penso que já não serão mais
Tantos 74 anos de diferença.
Um pouco menos, talvez um pouco mais.

Enquanto o fogo arde lá fora
É só brasa em meu peito, meu eu !
Mas a fonte dos meus olhos
Jamais se secará.
Ele será o passaporte para a outra vida,
Enquanto que
A memória vai se remoendo só na alma,
Até eu chegar no fim.
Até eu me tornar marfim !

 
 



 

Arroto,
Bolas.
Cuba Libre, rum, Coca-cola...
Dióxido de carbono
Expiração. Espirração.
Fumaça.
Gargalho alto.
Hoje em dia é assim
“Imoral, largo”, meu irmão diz... ingênuo...
Juízo ? Que nada... jogo as cartas na mesa
a La vontè... a seu gosto, lagosta com molho
Me molho ! Me lambuzo de melado. Mergulho no pote.
me Nego... que nada, me amo !
te Odeio... desprezo... já sabes...
Peco, penso, pego, parto pra lá, putz...
Que será ? Que queres agora ?
e como Resposta a tudo que te digo, se repete tudo que faço, passo.
Sopro o silêncio sozinha no escuro
Tédio ? Tontura ? Tesão...
Umm... uísque, uai !
Vivo do agora. Só quero que se vá, agora, a boca do resto de ontem
Xô !... “xoque !...” se repete tudo o que faço, passo... (já disse isso antes. Umm... uísque, uai)
Zona... no final tudo é mesmo uma zona...
 
 
 

Volta