Régis Antônio Coimbra
 
 
 

MALDITO GENERAL AUGUSTO PINOCHET, MEU IRMÃO
 
 

Como não repetir o erro que te atribuem
ainda que em menor proporção ?
Como entender a truculência extrema
e aceitar a relativa impunidade ?
Como julgar-te com justiça
sem te torturar contraditoriamente ?

E mesmo te torturando com selvageria
como mudar tua íntima satisfação
teu conceito de certo e prioritário
e não, ao contrário
repetir e reforçar tais convicções e orgulho ?
ou a lógica que te levaram a eles ?

Aliás, por que é tão difícil ser
realmente melhor do que tu
exceto por não ter tido
o poder e as circunstâncias ?

Por que é tão difícil aceitar
que és feito da mesma fibra que eu
que amas, odeias e tens ideais
como eu e os que mataste ?

Por que é tão difícil não só perdoar
mas mesmo te entender e acolher
dando o único exemplo que nos redimira
do vicioso círculo da vingança ?

Terrível general Augusto Pinochet
por que te deixaste capturar tão tarde
tão velho e indefeso, sem escapatória ?

Tua maior crueldade foi te mostrar tão frágil
diante de meu olhar tão cruel e intolerante
que em teu banal rosto de avô cansado
encontrei nada mais nem menos que um espelho

Mais cruel que este espelho
apenas os olhares dos que nem isso notaram
e atacam com inconsciente fúria
seus reflexos potenciais em tua efetiva biografia
e imagem pública

Por quão pouco não cometi teus erros ?
por quão pouco não te condenei
com ainda maior insensibilidade ?

Por quão pouco ainda não fui eu mesmo linchado
por esse atávico ódio que nos separa
bons e maus ou vice-versa
como reciprocamente nos julgamos
condenamos e perseguimos ?
 
 
 

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