MALDITO GENERAL AUGUSTO PINOCHET,
MEU IRMÃO
Como não repetir o erro
que te atribuem
ainda que em menor proporção
?
Como entender a truculência
extrema
e aceitar a relativa impunidade
?
Como julgar-te com justiça
sem te torturar contraditoriamente
?
E mesmo te torturando com selvageria
como mudar tua íntima
satisfação
teu conceito de certo e prioritário
e não, ao contrário
repetir e reforçar tais
convicções e orgulho ?
ou a lógica que te levaram
a eles ?
Aliás, por que é
tão difícil ser
realmente melhor do que tu
exceto por não ter tido
o poder e as circunstâncias
?
Por que é tão difícil
aceitar
que és feito da mesma
fibra que eu
que amas, odeias e tens ideais
como eu e os que mataste ?
Por que é tão difícil
não só perdoar
mas mesmo te entender e acolher
dando o único exemplo
que nos redimira
do vicioso círculo da
vingança ?
Terrível general Augusto
Pinochet
por que te deixaste capturar
tão tarde
tão velho e indefeso,
sem escapatória ?
Tua maior crueldade foi te mostrar
tão frágil
diante de meu olhar tão
cruel e intolerante
que em teu banal rosto de avô
cansado
encontrei nada mais nem menos
que um espelho
Mais cruel que este espelho
apenas os olhares dos que nem
isso notaram
e atacam com inconsciente fúria
seus reflexos potenciais em tua
efetiva biografia
e imagem pública
Por quão pouco não
cometi teus erros ?
por quão pouco não
te condenei
com ainda maior insensibilidade
?
Por quão pouco ainda não
fui eu mesmo linchado
por esse atávico ódio
que nos separa
bons e maus ou vice-versa
como reciprocamente nos julgamos
condenamos e perseguimos ?