"Sorte no amor
Homens e mulheres desejam
A sorte no amor"
Houve um tempo de ombros alados na noite opiômana
E eram como profundo lagos enigmas
Aqueles ombros e noites regurgitadas de um infinitesimal perfume Grenouille
E flutuavam na aurora todos os desejos sujos e graves
Como se regessem nus a gritaria elétrica de nossos nervos tocados pela chuva
Houve um tempo em que vestíamos a mortalha de Deus
E cuspíamos o sangue nas praças miradas da lua e da lama
E desossávamos bolas e crânios aéreos de danças urbanas
E invertidos ali, sob a luz do improviso pagão, dormíamos...
... Qu'o Deus se aquecia amarrado aos anéis de fumo
Mármore da noite de Belsen rejeitando o beijo
Houve que não gostássemos de tocar nos anjos
Lembra querida
De quando esperávamos pelo sol
E o frenesi rondava a esquina oculta do teu corpo?
Por que estás necessariamente ao meu lado?
Lembra de quando outros sóis despencavam
E junto aos mendigos, violetas sobre chagas, e nos portais
Recolhíamos as antigas profecias?
Arranquei tua cabeça de poucos invernos
E atirei na gaiola de abismos dos heróis das tragédias de horror
"Sorte no amor
Homens e mulheres desejam..."
Dependuradas nos bares e garimpos de tormenta mundana
O choro colado na parede rabiscada de endiabradas harmonias invisíveis ao nascente
Todas as crianças de um escarlate sonho bêbado desnudaram
Uma infinidade de confusos milagres
E lançaram taças de toda a sorte infanticida nos meus olhos
De mãos dadas, agora,
Elas sorriem debilmente
E me beijam a boca
... a boca de um morto.