Numa terra distante tinha guerra. Tinha guerra da gente da terra contra a gente da terra. Tinha criança tendo criança. Tinha preso prendendo o policial. Tinha fome também, e tinha um ponto e uma vírgula.
Solenes e superiores a toda essa guerra, fome e rebelião, o ponto e a vírgula fizeram parar aquela gente que fazia guerra. Mas na terra distante podia miséria de corpo. Podia miséria de alma. Político podia viajar com dinheiro da gente daquela terra. Mas um ponto e uma vírgula no lugar errado era demais pr'aquele povo.
Na terra distante podia noivo matar noiva, amante matar amante, gangue seqüestrar velhinho. Podia enfermeiro desligar aparelho e clínica onde mais se morria que se salvava. Podia doente esperar no corredor do hospital e podia rico não pagar imposto. Ah... mas não podia o ponto e a vírgula. A vírgula e o ponto...
Tinha terra naquela terra onde não nascia nada (só gente faminta), e onde não se achava nem água. Podia existir até fazenda que não produzisse. Pornografia infantil no computador, chacina também podia. Tirar árvore pra fazer dinheiro, destruir o tal ozônio, ganhar pouco, ficar sem emprego, acreditar que com crise se cresce (até isso podia !). Mas um insulto à moral dos cidadãos como é um ponto e uma vírgula num lugar errado... isso não era justo, não !
E tinha processo arquivado, providência adiada, reunião boicotada, lei ultrapassada, FEBEM rebelada, mágica desvendada, mulher pelada, criança abandonada, usina desativada, buraco em estrada... mas vírgula ? Ponto ? Juntos ?
Meu Deus, ainda bem que é uma terra distante...