JOSÉ AUGUSTO RIBEIRO DA FONSECA
 
 
 
 
 

CALOR DE JANEIRO
 
 

Quando Janeiro faz cheirar o asfalto
e esquenta todo o resto de sombra
quem pode, nela se recolhe.

Com o cair da tarde
e a calçada que agora pouco arde
ponho o crepúsculo a derramar
pernas pelo passeio.

Já de noitinha
à janela eu chego junto
e perplexo eu me pergunto:

Para que tantas pernas
de minissaia pelas ruas andando ?

Se estou aqui só,
com culpa e com dó
de só estar olhando...
 
 
 
 
 

SEM TOSTÃO
 

Pus cáustico corroendo
A base do meu presente,
Cólica expansiva invade o meu cotidiano,
Soberano sentimento de impotência.

Paciência árida, também como haveria de ser ?
Vejo o mundo pela retina do míope
(o logo ali se embaça
como se embaça o porvir).

O amor ainda existe,
Porém, hoje tem firma reconhecida.

Carcomido pela condição humana...
Não, mundana de final de século,
Sigo opaco, oprimido
Pelas ruas e vielas
Vendo nelas a concretude paralela da cidade.

Estou soando e suando
O silêncio da rotina,
Correndo nem sei mais para onde
Como a raiva desmedida
Do cachorro que lata para o muro.

Sinto-me comprimido por fora
E dilatado por dentro.
“A vida é assim mesmo”,
É a única coisa que ouço,
Mas vou pela semana angustiado
Por não ter um tostão no bolso.
 
 

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