JORGE BAZAGA Jr.
 
 

DANO


 
 
 
I

Dano no pano
Retalho do coração
Partido ao meio
Quebrado receio
Do choro em oração

Dano e engano
Ferido o encanto
Dane-se o ano
Dane-se o canto
Dane-se o pranto
E a desilusão

Dano no sangue
Danou-se a carne
Danou-se o filho
Dane-se o alarme
Do que poderia ter sido

Dano no ponto
No ombro e no escombro
Dano na ontem
No dia que adia
O susto da descontrução

Dano no pano
Do vestido molhado
As lágrimas na chuva
A pele nua
O antes tão desejado

Dano no pano
Que encobre o peito
Envolvendo o coração (que nunca refeito)
Nunca perfeito
Perdeu-se em solidão

II

Dano perfeito dano
Entre tu e eu
Está o que foi meu
O passado encarrega-se
De apagar todo aquele ano (o que se perdeu)

Dano no peito
Na tarde o dia
Adentra a noite
As estrelas de um nome
Que o tempo encobriu de poeira

Dano nos dias bons
Nos dias tranqüilos
O demônio sorriu
Separando de Deus
Os seus filhos

Dano no corte da faca
O sangue vermelho
Por dentro das veias
Imerso no suor
Que as lágrimas produzem

Dano em transe
Em canto e em ritmo
Dane-se o encanto – a magia
Dane-se a cor dos olhos (e o gosto da boca)
E a direção do vento

III

Dano no poema
Que desaba sobre si próprio
Chora a dor do poeta
Dano no nome
Trocado pelo codinome “sofrer”

Dano no mundo
As idéias pararam
As estradas pararam
O mundo parou
Dano absurdo

Dano no ano... e em tudo !

 
 
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