POEMA MIMADO
Admiro os feios confessos,
os gordos inculpados,
os magros esqueléticos,
os zarolhos assumidos...
Admiro tudo o que é feio
e se sabe feio
- e o sabendo, é vaidoso,
passa horas diante do espelho
penteando sua feiúra
acima do Bem e do Mal,
acima da necessidade orgânica
de ser hipócrita.
Não temos poemas feios!
Como não temos filhos
feios.
O problema é que há
beleza de mais no mundo,
o problema é que há
beleza de sobra em nós,
o problema é que a feiúra
é um problema
e nós não temos
problemas,
antes fossem pobremas,
mas nem pobres nós somos...
só temos poemas, poemas
e poemas...
Os nossos poemas não se
penteiam
- a gente que tem que pentear
eles,
repartidos ao meio, como a gente
gosta,
lambidos e sem cabelo ruim.
E como cheiram bem, impecáveis.
Os nossos poemas não suam
!
E não é só
isso:
os nossos poemas não fazem
pum !
E limpamos o bumbum dos nossos
poeminhas
- manhê, terminei.