Poesia de um delito
 
 
 
 

eu vos saúdo Fábia e Nísea, transparentemente
Verdade, verdades... à procura da rima conveniente
o que são ? para quê ? por quê ? por quem ?
cabaré dos sorrisos marotos, escultura em gelo, lápides, dogmas, matrizes
o nome sem nome, a realidade última, meus dardos envenenados
às vezes suítes, às vezes barreiras, flexão de verbos secos
às vezes sinais de alerta de que sua vida não anda lá essas coisas
as respostas, os anos, os anjos, os banjos, destroços dos desaventos
o baú das neves foscas de um segundo desaparecido, às vezes desaparece
tantas histórias ! de fardos, de forcas, naufrágios, descompassos,
cruzes, corpos, confins, epílogos, amantes, ladeiras, becos, metrôs
e, numa dessas distrações, o homem cruzou o rio outra vez
mas, no fim... todas as eras eram iguais
eram rimas que nunca mudam um dia, eram rezas
sem sina, sem par, as rezas, deixadas pra trás, sem rima
as rimas, as rezas, a onda que esqueceu que era o mar
pura casualidade, verdade, verdades... nada de mais
a sombra humanóide de toda palavra, o último ao cadafalso, cada último
o homem subindo os rios da vida
a sombra humanóide cantando na chuva ácida
e o polegar já não aponta o destino.

No fundo somos todos ratos e homens
vagando nesse celeiro onde todas as verdades são passionais.
 
 
 
 
 

"Não sou em quem repete essa história
é a história que adora uma repetição"
 
 
(Chico Buarque – Rebichada)

 
 
 
 
 
 

(para os que não aprenderam.
e principalmente, para os que não sobreviveram)

todas as palavras
ressoam palavras
sem encontrar pouso.
tudo pode ser
outra coisa
sobre outras coisas
que não têm rosto
e de onde arrancas (ânsia)
a mais ínfima insônia
atrás de voz humana em silêncio.
palavro, despalavro
dez mil maus poemas
(dez mil pistas mortas)
principio letras larvas lustres
tempo e lugar nenhum
reluzindo um resquício de vida
entre espinhos
no fundo do rio
(do qual apenas sei o eco).
tudo é mundo e tudo
morre ou mais que morre
silenciado ou exausto
mas pulsante, mas atento
mais atento
à menor claridade.