Fábia Alvim


DIÁRIO
 
Nada que as janelas não me digam
Nessa tarde.
Os edifícios padecem de cinzas
E as coisas guardam sua mágoa
Por serem coisas.
Os rádios cantam
O que lhes cabe cantar.
Portas entreabrem o mundo mudo.
Feridas justificam
Sua existência porque doem.
Redes ninam o dia nas varandas
Até que a noite os faça dormir...
E tudo de novo amanhã.
 

 
O COMEÇO DA COR 

... para Marina ...
 

A causa é conto
Ponta de lápis...
(menina que nina sonho)
Sina de ser outra cor
Diferente no tom
O conto é o passo
O ninar do sonho
– O berço e o abraço –
A caneta dança
Sina de estar criança
Cantiga de ninar tardes
(Noites e dias)
Na ponta do lápis
Que pinta o conto:
O começo da cor.

Descobri que as palavras mancam
 
 
 
 

Descobri que as palavras mancam.
E, mancando, tentam encher
Páginas do que não conseguem ser.
Tentam marcar caminhos
Nos quais não podem passar
Tentam se olhar nos espelhos
Em que não podem se refletir.

Descobri que as palavras mancam
Porque manhãs não fazem manhas.
Rios não riem,
(só choram muito)
E OVNI's não podem falar conosco.

Descobri que as palavras mancam
Porque nem todos que
São são sãos.
Eles sentem dor
Eles sentem sono
E eles despedaçam sonho.

Descobri que as palavras mancam
Porque criança
Deixa de ser criança
Quando descobre
Que a mãe também sofre.

Descobri que as palavras mancam.

E daí, se mancam ?

 

Meta Lingüística
 
 
 

O mérito
Nunca é
Do poeta
É do existir
Dessa possibilidade
Chorona
De transbordar
Que é a poesia
Do transbordar
Que é a poesia
 

"Se a vida fere, uma piada cura"

      (Chico Anysio e Arnaud Rodrigues)

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