EDITORIAL



 
 
PROPOE – Prosa e Poesia – N° 26 – EDITORIAL
 

OS ÚLTIMOS DIAS DE PAUPÉRIA

VINÍCIUS PAIVA

COMO DIZIA O CARA do Esquadrão Classe A, “adoro quando um plano dá certo”. Quando começamos o projeto no DCE de 98 sabíamos que não bastava apresentar novos talentos – e novas maneira de manifestação e organização. Era preciso arrumar um veículo para esse movimento.
NOS ÚLTIMOS 20 MESES esse veículo vem percorrendo – sob diversas formas – a trilha que a mídia de macros abandonou. Sem resvalar na pretensão, uma edição de n° 26 é, antes de mais nada, um atestado de sobrevivência. E na prática isso quer dizer: a partir dessa edição manteremos um contato bem mais próximo com o DCE e a tiragem girando em torno de 2000 exemplares, dos quais cerca de 1000 serão voltados para a comunidade urbana (sim, está nos nossos planos um retorno da distribuição aos sábados no calçadão).
ESGOTADA A HISTERIA conceitual, voltemos a essa edição. Atiramos para todos os lados: pequenas crônicas cotidianas, tiradas épico-setentistas, baladas auto-biográficas, um rosário de paixões etílicas para descansar a vista e milhões de pontinhos luminosos à solta – graças, em grande parte, ao sangue que o renovado conselho de edição tem dado ao Propoe.
E PARA CADA POESIA com “Uma bomba cai no Iraque. Outra em Kosovo” há duas delícias como “o conto é o passo, o ninar do sonho, sina de estar criança”. E é sob a égide apocalíptica de “Sem tostão” que o Zé Augusto provoca visões. “Vou pela semana angustiado por não ter um tostão no bolso”. Para quem está aqui no Brasil faz o maior sentido. Tem rock e birita para dois também: “plantas pterydophytas crescem em meus solos de guitarra” – para o Anderson os anos 70 estão longe de acabar. Ainda bem. Há espaço também para a indignação ao nos depararmos com um certo Distrito Punk Universitário: “não abaixe a cabeça pra ninguém te censurar” – só nos resta torcer para que “Sociedade Alternativa” não acabe virando trilha sonora para um comercial de TV. Protestos à parte, tem homenagem a Fernando Pessoa; tem Luiz de Aquino, profissional, sem verniz e muito eficiente;  tem “um terno e afetuoso abraço” da Heliane, tem o Zeh ! destilando seu veneno humorístico e tem uma surpresa do Antônio Adriano, endemoniado e funéreo, um poema-missa-negra que me fez lembrar a época em que eu girava os discos do Ozzy Osbourne ao contrário, tentando ouvir algo como “Satã, eu te amo”.
 
 

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