HELIANE MISCALI
 

“Veludo humano, pano em carne viva
menos realce, mais vida real”

(GILBERTO GIL – Rep)
 
 

É VOCÊ ?


 
Até ontem, eu era. Ou quase ontem, ou quase era. Mas e hoje? Quer dizer de hoje, quando o tudo bem e o ano que vem chegaram antes para mim?
 Talvez cantar: “E o que diz o B, o que diz o B ?”, enquanto bebemos petróleo (líquido negro do capitalismo) e torcemos para o carinha acertar a privada. Ele vai acertar ! Ah, vai... um dia ele acerta ! E enquanto não acerta, vejo o seu sorriso... (o telefone tinha roubado o seu sorriso e se eu tivesse duas mil estrelas eu pagaria o resgate).

Mas falemos do anjo (que mesmo tendo judiado do Policarpo não se trata de Lúcifer). Falemos dele, acreditemos nele, toquemos nele e por que não? O coração não é a porta da cozinha que deve ficar fechada com tranca (obrigado). Iremos sofrer, quem sabe, mas vou estar aqui para ouvir você.
 
Quem sabe, falar? É justo.

Perguntar se Van Gogh preferiu cortar a orelha a pintar um quadro rosa não é absurdo. Sempre gostei do cara e sempre achei que eu também cortaria a minha se fosse ele, meio bobo, iludido e incapaz de acariciar um cão na rua: coitado do rosa ! Diga do rosa: Eu te amo, beLIEve, please, e eu não chamarei de hipocrisia aquilo que é verdade latente mascarada de qualquer coisa. A espontaneidade não é coisa que se compre em garrafinhas por aí, nem o amor deu pra encher um litro.
 Mas um dia o cara acerta a privadinha, ah acerta ! E enquanto ele não acerta eu vejo o seu sorriso e te digo que você deve ficar com o anjo. Ele contigo. Não porque não há nada de maior e de menor que um toque, mas sim porque o menino de dois anos que toca guitarra e morde a mãe ainda tem os olhos doces demais (que a piedade divina sempre me reja, me guarde, me governe, me ilumine e me diga pra onde leva o vento sul).

Tudo bem, we are learning to fly. Tudo bem que ninguém vai me dar o balanço das dores que tive e jamais o Viola fará um gol tão bonito.

Tudo bem que você ainda não consegue dizer o meu nome(KLTRHSVAMEVBNJXFE!) e nem eu consigo saber porque o teu rosto bonito já mora no meu coração.

A gente não sabe nada e tá aí pra ver qualé. Léo e Bia souberam amar, e eu sei que você sabe que a distância não existe e que todo grande amor só é bem grande se for triste.

Até ontem, eu era.

Isso já passou. Tudo na vida é passageiro, menos meia dúzia de cabeças terrestres que são trocadores, e eu sempre quis ser isso mesmo: perpendicular aos paralelos que tangenciam os caminhos. Somos trocadores porque não estamos na rota dos milhões (ou não).

Não dá pra fazer barulho sem incomodar os vizinhos, e já que era de segredos, vou falar baixinho: não sei nada sobre o ano que vem, mas por esse (só por dias como hoje, de belezas simples) está tudo bem e bem que podia ser tudo assim.


 

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