Camilo Mota
 
 
 
 
 
 

CANÇÃO COMO VIDA
 
 

Passam os fatos da vida:
a queda do império romano,
Sinatra bebericando num canto,
Dona Maria servindo a última refeição do marido.
Nada turvo – todas as almas coexistem,
como fantoches, ou bailarinas.
A estátua de Pedro, o imperador, sorri.
Chove e ninguém o vê com seu riso maroto
de quem sabe o que reina sobre os homens –
ainda que digam que o rei é sério e soturno:
não o meu rei: ele é uma estátua de sonho.
Somos comuns e mais comuns nos tornamos
quando a tarde cai e para casa voltamos.
Uma bomba cai no Iraque. Outra em Kosovo.
E quem morre é o mendigo que ontem
cumprimentamos: sombra de nosso
tempo a nos dizer quem somos.
Meu dia é o de Pedro, e Malaquias,
e Salomé, e Maravilha, o imperador
negro das ruas de Petrópolis. E também
é Conceição e Tânia e Gerson e Fernando
e todos os que vivem sobre a terra grávida de futuros.
Meu tempo é um menino mimado pela mão de todo ser.
 
 

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